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Expectativa vs realidade: Os prós e contras de manifestar o futuro

  • Foto do escritor: Rafaela Santo
    Rafaela Santo
  • 27 de nov. de 2021
  • 4 min de leitura

Nós entramos no mundo sem molde e com cada pequeno pedaço de informação mudámos, para criar a pessoa que vemos ao espelho todas as manhãs.

Tudo o que vemos, tocamos e experienciamos compõe o tecido de que somos feitos.

Gera a imagem que temos de quem queremos ser.


Traça as nossas expectativas para o futuro.


Mas então, expectativas são algo bom ou mau?



Como a maioria das coisas na vida, elas parecem ter dois lados.


Observem esta história:

Um homem visita uma bruxa e esta dá-lhe uma profecia: ele morrerá numa noite em que a lua cheia adorna o céu. Durante a próxima noite de lua cheia o homem sofre um ataque cardíaco e morre instantaneamente.


Poderiamos dizer que as bruxas existem mesmo, que o destino e a magia são factos reais. Ou, que a ansiedade sofrida pelo homem ao pensar que ia morrer causou o ataque cardíaco e por sua vez fez real a profecia.


Em 1948, Robert Merton apresentou o termo “profecia auto confirmatória” baseado no conceito de que algo firmemente acreditado, tem uma maior probabilidade de se tornar realidade. [1]

O ser humano tem a tendência de querer as suas crenças confirmadas, assim, a pessoa irá consciente e subconscientemente fazer um esforço para estar certa.


Começar o dia a esperar que algo corra mal, por exemplo, irá levar-nos a ter uma atitude e humor mais negativos, onde será mais fácil errar. Ficaremos irritadiços, mais distraídos e mais propensos a criar problemas. Da mesma forma, ao acreditarmos que as nossas ações irão ter um desfecho positivo, teremos a coragem e motivação necessária para fazer o mesmo acontecer.


Mas o poder das expectativas não fica por aqui.


Em 1968, os psicólogos Rosenthal e Jacobson, organizaram uma experiência. [2]

Fingiram que iam executar um teste numa escola básica, para descobrir quem eram os estudantes com mais probabilidade de sucesso académico e distribuíram os resultados falsos do teste às professoras.

Nomeando várias crianças como mais inteligentes ao acaso, deixaram as professoras a trabalhar com os estudantes. No final, descobriram que as crianças que tinham sido nomeadas como mais inteligentes mostraram melhores resultados académicos que as restantes.

Subconscientemente, as professoras tinham tratado as turmas de forma diferente, de acordo com as diferentes expectativas que tinham para cada uma das crianças.

Esta diferença de comportamento por parte das professoras ditou os resultados de aprendizagem.


Como podem ver, as expectativas aparentam ser algo formidável.

Têm a capacidade de mudar, não apenas o resultado daquilo que nós fazemos, mas também o dos comportamentos daqueles que nos rodeiam.


A esta altura podem estar a perguntar: mas então se eu esperar receber uma promoção no trabalho amanhã, com certeza que vai acontecer, certo?


Então, esperar receber a promoção vai dar-nos a confiança necessária para trabalhar mais, para falar com o patrão e ativamente pedir a promoção, ou até para subconscientemente fazer o patrão acreditar que temos o que é preciso para essa função. Mas infelizmente, por tudo o que a ciência sabe, apenas esperar que algo aconteça, não o torna automaticamente realidade.


O que pode tornar-se um problema, quando começamos a esperar demasiado e demasiado cedo.


Hoje em dia, somos bombardeados com informação a toda a hora. Com o clique de um botão ganhamos acesso a uma janela de exibição para milhões de possibilidades. É quase impossível navegar pelo nosso quotidiano sem esbarrar em comparações. E se as nossas expectativas são criadas pelo que vimos, é fácil tirarmos conclusões acerca das vidas alheias e sentirmo-nos dececionados com a nossa.


Muitas vezes, o que estas enigmáticas janelas nos vendem é um ideal de perfeição. Uma imagem de felicidade pura e inatingível. Que nunca poderia existir na nossa imperfeita (mas real) vida.

Esperamos que as nossas casas estejam tão imaculadas como as que aparecem nas fotografias do Pinterest. Esperamos que o nosso trabalho seja tão bem pago como o do vizinho do lado. Esperamos que as nossas relações sejam tão saudáveis como as que existem no Instagram. E com todas estas expectativas, acabamos por nos esquecer que o que vemos é apenas uma fração da realidade. Por norma, a fração que os outros nos permitiram ver.


Não estou com isto a tentar dizer que ter a casa limpa e arrumada, um trabalho bem pago e relações saudáveis são objetivos impossíveis de alcançar. Muito pelo contrário, todos eles são possibilidades reais e tal como vimos anteriormente, esperar e acreditar que resultem é um primeiro passo importante. No entanto, é importante saber que estes não acontecem sem um custo. Custo este que pode ser difícil de percecionar de uma perspetiva externa.


É crucial ter uma perspetiva realista do que é necessário fazer para atingir os nossos objetivos. Os sacrifícios que com eles virão e os desafios que teremos de enfrentar. Decidindo por nós mesmos o que estamos dispostos a comprometer. Compreendendo sempre o que está no nosso poder mudar e o que não está (veja também o círculo de controlo: https://www.instagram.com/p/CVBW843gm44/).


Afinal é impossível termos tudo. As chances são que, se tivéssemos, a vida seria demasiado entediante.


Na vida é fundamental priorizar o que é verdadeiramente importante de forma a sentirmo-nos realizados.

Nunca esquecendo de reconhecer o que já temos e o que conseguimos atingir até agora.



Referências:

[1] Merton, R. K. (1948). The self-fulfilling prophecy. The antioch review, 8(2), 193-210.

[2] Rosenthal, R., & Jacobson, L. (1968). Pygmalion in the classroom. The urban review, 3(1), 16-20.




 
 
 

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